O Filme de Olivier Dahan nos mostra uma face de uma das maiores cantoras do Século XX. Edith Piaf, o filme mesmo sendo uma narração comercial (claramente, desde o trabalho de marketing feito até aos prêmios que quis disputar) foge do didatismo simples. O filme alterna entre momentos de sua infância na vila de Belleville em Paris e, claro, os momentos no palco. Filha de pais artistas de rua (o pai um contorcionista de circo e a mãe uma cantora de rua), a pequena Edith teve uma infância difícil de idas e vindas chegando a viver em um Bordel criada pela avó paterna. Lá foi onde teve sua proximidade com a fé e exclusivamente a figura de Santa Teresa do qual se tornou devota até o fim de sua vida.
Através do filme de Dahan é vista toda uma história paralela não só da biografada mas também de Paris e Nova York como capitais da arte. Notamos que Paris, pouco a pouco perde o seu posto para a Nova york do Jazz. Uma outra abordagem interessante é a da vida de Edith em Nova York, sua incomunicabilidade perante ao "American Way of Life".
O Filme alterna entre várias partes da vida de Piaf, da infância vemos logo em seguida a consagração, num mesmo contraste seguido de uma edição um tanto rebuscada (intencionalmente eu imagino) vemos trechos de sua velhice resultante da sua doença que causava envelhecimento precoce.
Uma outra característica interessante do filme de Dahan, me remete a questão da representatividade de Piaf, o diretor nos mostra o período e a "construção" da artista Edith Piaf quando, junto com sua amiga pianista começa a trabalhar com o produtor musical que dá os moldes até hoje conhecidos como suas fotos com olhares vazios, a expressividade das mãos, a vestimenta muito bem escolhida.
O filme tem momentos de grande prazer e degustação visual, a fotografia é magnífica. a atuação de Marion Coutillard nos deixa com um gostinho de que Piaf ainda está viva, nos traz também uma noção de tragicidade, lirismo, uma poética talvez não muito presente em dias atuais. Como a música inicial do filme Heaven a Heave no Mercy - "no more smiles, no more tears, no more prayers, no more fears, nothing left, why go on..."
Esse trecho nos mostra a Piaf de Dahan, verdadeira, sensível, intensa a cada segundo em tudo e com todos.