quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Espírito da Colméia

   O Filme "O espírito da Colméia" lançado há pouco tempo no Brasil, tem uma trama a primeira vista simples devido ao buscar a visão do mundo na perspectiva de duas meninas irmãs que moram em um vilarejo espanhol em meados da década de 40.  Em meio a experiências infantis de descoberta, o diretor Víctor Erice, nos conduz a uma atordoante perda da inocência em meio a guerras e violência e, claro, desespero humano.
   Você poderá dizer que já se viu várias experiências fílmicas como essa de jovens, perda de inocência em um mundo de guerra, poderíamos citar outros dois classicos como A Infância de Ivan de Andrey Tarkovski e o polêmico Vá e Veja de Elem Klimov. Mas O Espírito da Colméia tem uma pequena diferença, seu sofrimento é mudo, seus diálogos são niilistas, suas metáforas são atemporais (e eu diria que a-históricas).

A trama se desenrola quando duas meninas vão para o cinema da cidade e assistem pela primeira vez Frankenstein, e, uma delas fica extremamente inquieta pelo fato de que o personagem matou a menininha e que depois próprio povo o mata. Indo na brincadeira da irmã mais velha (que diz que no cinema tudo é um truque) diz a ela que Frankenstein é um espírito e que o mesmo encontra-se vivo. Começa então uma jornada íntimista de uma criança em busca de encontrar um personagem que, até então mal conhecia.

O personagem Frankenstein é uma figura muito ambígua, se pensarmos em sua escolha e principalmente nos diálogos mostrados no filmes, que falam sobre enigmas de vida, morte, superação humana, nos mostra um caráter amplamente oposto as teorias evolucionistas que até então no período de guerra tinham extrema força. O pai das meninas relfete sobre as abelhas que cuida (a metáfora é muito presente dentro de sua própria casa, já que as janelas parecem favos de mel), onde diz sobre a sua "colméia de cristal"; refletindo sobre o trabalho das abelhas, das enfermeiras, da rainha, dos cuidados minunciosos que elas têm em relação a construção e em manter esse ofício de geração em geração, mesmo que instintivo. O Personagem repensa isso de forma também ambígua quando diz "isso tudo no fim não servirá para nada". Resumidamente, o filme critíca de forma amplamente categórica, a lógica de construção humana, como também as categorias de humanos superior (comparando na figura de Frankenstein).  Jogando isso para a Teoria da Intertextualidade, as análises se tornam riquíssimas como vismos, o Frankenstein não é uma simples "homenagem" ao clássico do cinema de horror e ao diretor James Whale, é um instrumento de crítica aos valores dá época e  as ideologias dominantes. Isso sem restringirmos a metáfora "terror" expressa no filme que foi feito em 1973, período ainda vigente do governo Franquista.

Outra coisa impactante, como havia falado anteriormente. É a personagem infantil vivida por Ana Torrent, sua obssessão pelo personagem é inquietante já que nos diz muito dela, sua curiosidade ao entender e conhecer o que lhe foi dado desde então. Dentro de sua busca pessoal, encontra outras coisas até então nunca vistas, a cena em que ela encontra o soldado republicano e o ajuda é muito significante (esssa cena é puramente visual, uma experiência maravilhosa), logo depois sua descoberta trágica do que é mesmo a morte e o que implica sua perda. A jornada de fantasia e realidade se confundem no mundo da criança, diria até que seria um avô do Labirinto do Fauno.
Um filme para ver e rever.







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